Para esse dia que representa uma conquista do Movimento Negro para a (re)construção de uma sociedade com direitos - deveres e equidade, socializo esse texto de minha autoria para reflexão. As imagens aqui apresentadas fazem parte de uma das atividades desenvolvidas durante o Estágio Supervisionado em parceria com o Curso de Pedagogia da Unemat/Sinop.
Link do texto completo:
https://books.google.com.br/books?id=-SwzEAAAQBAJ&printsec=frontcover&hl=pt-BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false
Estagiárias: Josiane e Daniele
Supervisoras: Sandra Carvalho e Jaqueline Loureiro
Atividade: Painel da Diversidade
A MENINA PRETA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Há um ditado africano que diz que é preciso toda uma aldeia para criar uma criança. Essa é uma ideia poderosa da responsabilidade da sociedade pela criação e pelo desenvolvimento de toda e qualquer criança. No entanto, nos países em desenvolvimento e em muitas regiões africanas de onde provem o ditado, as crianças pequenas têm sido muito negligenciadas. As consequências para a sociedade como um todo são graves aumentos da exclusão, perpetuando-se a pobreza. (CARVALHO, p. 82, 2012)
Este texto intitulado: A menina preta na educação infantil, tem como objetivo provocar para uma reflexão necessária com o intuito de conscientização das práticas educacionais desenvolvidas dentro das instituições de educação infantil, tendo como centralidade a representatividade da menina preta dentro desses espaços, sobre orientação da tríade: [identidade – representatividade – invisibilidade da menina preta], as reflexões apresentadas tem como finalidade reduzir os impactos da falta de representatividade das meninas pretas dentro dos espaços escolares, principalmente na primeira etapa da educação básica (educação infantil). Nesta perspectiva, busco articular questionamentos e posicionamentos no intuito de conscientizar sobre a existência do racismo institucional dentro das instituições educacionais, legitimados pelo currículo predominantemente eurocêntrico das escolas brasileira.
As desigualdades inerentes a cor da pele da população preta está diretamente relacionada ao racismo estrutural. Como é observado no Brasil, sobre a diáspora preta, existe uma segregação relacionada a cor da pele, sendo quando mais claro o tom da pele, mais privilégios existes, uma (pseudo)blindagem. Nesta mesma linha, a segregação relacionada ao gênero feminino (fortemente influída sobre a figura da menina preta), também está presente nos espaços de educação formal, paira sobre elas o estereótipo de inferioridade.
Se o atendimento tem que ser igual para todos independente de raça, porque a menina preta não está representada nas paredes da escola?
O primeiro erro que ocorre na educação infantil, é o professor definir que sua prática tem que ser estéticas, equivoco que não contribui em nada para a formação da criança. Existe a resistência em representar a menina preta, a cor marrom das cartolinas e do E.V.A. normalmente servem para fazer tronco de arvores ou representar a terra, é a cor que mais sobra no material das escolas, o professor tem a recusa pela cor (racismo estrutural). Essa recusa em utilizar a cor para representar a menina preta, pode ser definido também como racismo institucional.
Assim, nos questionamos: o porquê da recusa do professor com a cor da nossa pele?
A menina preta, se acostuma a ver padrões de beleza europeu desde a sua iniciação na escola, como ela vai se aceitar se a sociedade não a aceita? Como ela vai se sentir valorizada se a sociedade não a valoriza? Como ela vai se identificar com o seu grupo étnico se a sociedade não a identifica? Existe muitas meninas pretas que não se reconhecem ao ver a sua imagem refletida no espelho, negam o seu grupo étnico, negam a sua identidade pela forte influência eugênica da nossa sociedade.
A menina preta é taxada de diferente, pois o seu cabelo é diferente, sua pele é diferente, seus traços fenotípicos são diferentes, e ela desde pequena luta por atenção, por afeto, carinho, por respeito.
A menina preta fantasia com os contos de fadas, pois são as principais histórias contadas para elas, mas quais são as princesas presentes nessas histórias? Chapeuzinho Vermelho, A Bela adormecida, Branca de Neve, Ariel entre outras que tem por características principais: cabelos lisos, peles rosadas, traços finos. Onde a menina preta se reconhece nessas histórias? Quantas princesas pretas são apresentas para as meninas pretas durante o ano? Quantas meninas pretas fazem o papel de princesa nas representações dentro da escola?
Uma pergunta que podemos fazer é, onde estão os personagens negros dentro dos contos de fadas?
O Brasil e o brasileiro constituem-se como uma nação racista, vivemos sobre a utopia da democracia racial, mas a realidade é representada por desigualdades – a exclusão da menina preta/pobre/periférica. Considerando a construção identitária da população brasileira, temos uma nação plural, mas porque existe uma marginalização com relação a cor da pele “preta”?
Apesar do consenso e do discurso, há muito ainda a fazer, e os resultados dependerão do grau de mobilização, sensibilização e empenho da sociedade brasileira para reverter o abandono de parcela das crianças na primeira infância. É tempo de iniciar um movimento que cuide de toda e qualquer criança, não deixando nenhuma para trás. (CARVALHO, p. 82, 2012)
Documentar a trajetória das meninas pretas dentro da educação infantil, requer um olhar sensível, principalmente por que a maioria delas aprende desde cedo silenciar-se diante dos ataques da sociedade, é evidente que precisa ter investimento para a transformação das estratégias educacionais com o intuito de combater o racismo e o preconceito racial dentro das escolas. Tendo como comparativo os fatos apresentados, as práticas educacionais estão centradas em lógicas sociais e raciais que envolvem o processo de escolarização, sendo assim estão envolvidos em pensamentos e ações que camuflam o racismo nas escolas principalmente na educação infantil, tendo como protagonista desses episódios, a menina preta. Dentro das escolas o racismo e o preconceito racial são negados e o que plaina é o mito da existência de uma democracia racial.
Referência
CARVALHO, Silvia Pereira de. Os primeiros anos são para sempre. In: Educação infantil, igualdade racial e diversidade: aspectos políticos, jurídicos, conceituais. Maria Aparecida Silva Bento (org.). São Paulo. Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades – CEERT, 2012.